INTRODUÇÃO
É necessário entender que nós, como cristãos,
não somos Deus, pois, tendo esta compreensão, não limitaremos Seu agir em
nossas vidas e por meio de nós. Deus, afinal, é um só. Porém, apesar de óbvio,
foi nesta tentação que Eva caiu quando conversou com a Serpente: a de haver
desejado ser como Deus (Gn 3.1-5). Ela não foi tentada pelo sabor do fruto e
nem por fome que sentia do mesmo, mas sim pelo desejo de ser Deus, pois esta era
única coisa que não tinha.
Nós, assim como Eva, também somos tentados
neste sentido, pois muitas vezes este tem sido o nosso desejo. Isso acontece
quando somos tentados a nós tornar o deus das nossas vidas, seguindo a nossa
própria vontade e anseios, tomando decisões sem a direção do Senhor, etc.
Quando agimos assim, optamos, consequentemente excluir do Senhor de nossas
vidas. Apesar disso, Deus declarou por meio do profeta Isaías:
“Eu sou o Senhor, e não há nenhum outro; além
de mim não há Deus. Eu o fortalecerei, ainda que você não tenha me admitido, de
forma que do nascente ao poente saibam todos que não há ninguém além de mim. Eu
sou o Senhor, e não há nenhum outro. ”
Isaías 45:5-6
O desafio de conhecer e
provar do Senhor
João registrou as palavras de Jesus enquanto Ele e seus discípulos
participavam da festa judaica dos Tabernáculos, ou da Colheita, como também era
conhecida. Ao último dia da comemoração, propositalmente, o Mestre declarou em
alta voz:
“Se alguém tem sede, venha a mim e beba. Quem
crer em mim, como diz a Escritura, do seu interior fluirão rios de água viva”.
”
João 7:37b
Diante disso, devemos nos perguntar do porquê
Jesus esperou o último dia da festa para fazer esta declaração. Afinal, eles
estavam celebrando a colheita, ou seja, estavam fartos de riquezas provenientes
do campo, alimentos e vinho. Jesus, justamente por isso esperou até o dia do
fim da comemoração pois sabia que, na verdade, aquele povo, apesar de
"cheios", ainda estavam “vazios”. Eles sentiam sede, e sede de Deus.
Jesus, por isso, nos convida a não somente tê-Lo conosco, mas
também a experimentá-Lo. Mais do que ter um
Deus, precisamos também conhecer a cada dia mais quem Ele é. Jesus, na ocasião,
incitou o povo a experimentar a água, a bebê-la.
Conhecendo um Deus relacional
Jesus, com o objetivo de ensinar os discípulos a
experimentar mais Dele, levando-os a um barco, no meio de uma tempestade. Ele
os convidou a passar para a outra margem, porém, no meio da travessia, quando a
tempestade já estava instalada, Jesus dormia profundamente na popa do barco.
Porém, os discípulos, apavorados, acordaram-no, ao que aconteceu:
Ele se levantou, repreendeu o vento e disse ao
mar: “Aquiete-se! Acalme-se!” O vento se aquietou, e fez-se completa bonança.
Então perguntou aos seus discípulos: “Por que vocês estão com tanto medo? Ainda
não têm fé?”
Marcos 4.39-40
Diante desta situação, Jesus ensinou
aos discípulos, na prática, alguns princípios:
1. NÃO LIMITE
DEUS A UMA RELIGIÃO;
Deus não está limitado a nada, nem mesmo a uma
religião ou a uma cartilha de regras. Foi necessário, portanto, a Jesus ensinar
isto aos seus discípulos pois os mesmos haviam crescido debaixo de uma cultura
religiosa, o judaísmo.
Em primeiro lugar, Jesus chama os discípulos
para andar de barco, uma atitude que foi provavelmente julgada estranha por eles,
mas que os fez descobrir que Ele é um Deus relacional e que desejava muito além
de que os mesmos respeitassem uma Lei, mas ansiava conhece-los e dar-se a
conhecer.
Deus precisa mostrar-se a nós para que deixamos
de ser convertidos a uma religião, igreja, célula, a um líder ou a um pastor.
Saulo passou por esta experiência, pois quando se encontrou com Jesus, toda a
sua religiosidade caiu por terra e um novo homem foi formado, segundo as
palavras de Jesus, que o declarou um “instrumento escolhido para levar o Seu
nome aos gentios e judeus” (At 9.15). Diante deste encontro, Paulo, por três
dias, não comeu, nem bebeu (v. 9), algo que provavelmente já fazia, pela Lei,
mas não estarrecido pela Presença do Senhor, como o fez neste dia. O
conhecimento do Senhor não anulou a Lei em sua vida, mas apenas a trouxe
sentido. Este é o desejo de Deus para todos nós, que façamos tudo por amor
Àquele ao qual conhecemos.
2. NÃO LIMITE
DEUS A UMA FASE DE SUA VIDA.
Não é porque estamos vivendo uma fase boa de nossas
vidas que Deus é bom e nem porque está ruim, que Ele é mau. Jesus encaminhou os
discípulos para passar para outra fase (ir para o outro lado), mesmo sendo uma
região em que as tempestades eram comuns.
Jesus também deseja nos encaminhar a uma outra fase,
de crescimento, de ir além. Apesar de estarmos bem do lado onde estamos, no
outro lado, com certeza, ficaremos melhor ainda. Com o Senhor, em fases ruins e
boas, vivemos sempre o melhor.
3. NÃO LIMITE
DEUS DEVIDO AOS PROBLEMAS.
Os discípulos se sentiram abandonados ao
analisarem a situação: a tempestade crescia e os amedrontava, enquanto Jesus
dormia. Eles O limitaram a um problema. Diante disso, é preciso entender que o
problema nunca testará a Deus, mas a nós. Afinal, foi Ele quem disse:
"Passemos para a outra margem" (Mc 4.35), ou seja, incluiu-se no
projeto, afirmando que iria junto com eles.
Deus sempre está conosco no meio da tempestade.
Ele, muitas vezes, sem que percebamos, cuida de nós e nos livra de coisas que
nem imaginamos. Ele nos disse que estaria conosco, até a consumação dos séculos
(Mt 28.20b).
4. NÃO LIMITE
A PALAVRA DE DEUS;
Muitas pessoas têm limitado a Palavra de Deus
por torná-la relativa. Jesus havia convidado os discípulos para passarem à
outra margem, então, obviamente que isto iria acontecer, pois Ele zela para
cumprir Sua Palavra (Jr 1.12). Mesmo assim, eles ficaram com medo. Algum deles,
na possibilidade de ter lembrado do que Jesus havia dito e, com fé, poderia ter
se levantado e repreendido a tempestade, mas nenhum o fez. Não podemos nos
esquecer de que pela Palavra, o Universo foi criado! A Palavra de Deus é
poderosa, pois o mesmo Senhor que disse: “Passemos para a outra margem” foi o que
também ordenou ao mar: “Aquieta-te”. Nós devemos nos agarrar a esse Deus
poderoso e à Sua Palavra, tanto em tempos bons como ruins.
5. NÃO LIMITE
DEUS POR SUAS HABILIDADES.
Diante do desespero, provavelmente os
discípulos tentaram usar suas habilidades (inclusive alguns deles entendiam
muito bem de navegação). Porém, ao perceber que suas habilidades não os
salvariam, foram à procura de Jesus.
Nós também deixamos Deus "dormindo"
porque queremos fazer o que somente Ele tem poder. Existe, infelizmente em nós
esta confusão: dormimos quando deveríamos estar acordados e ficamos acordados
quando deveríamos estar dormindo, ou seja, quando é necessário que nos
posicionemos contra as trevas, dormimos e quando nos é necessário descansar em
Deus e deixar que Ele trabalhe, reunimos forças e habilidades para agir!
O rei Asa declarou que os seus olhos estavam
postos em Deus (2 Cr 20.12), pois sabia que não podia confiar em suas
habilidades. Os homens lançados na fornalha confiaram em Deus diante de uma
situação que eles mesmos se meteram ao não obedecer à ordem maligna de
Nabucodonosor (Dn 3.17-19). Eles mencionaram algo que nunca havia acontecido
antes: ser livre da fornalha. Eles não sabiam como, e nem precisamos saber,
pois não confiavam em suas habilidades.
Davi, por exemplo, encorajou-se a matar
gigante, mesmo sem saber como, pois sabia que era Deus que o faria em seu
lugar.
CONCLUSÃO
No início da história, enquanto a tempestade
assustava os discípulos, os mesmos estavam bravos com Jesus. Porém, ao final,
os doze já não estavam mais interessados no que Jesus podia fazer por eles e
dos milagres que poderia realizar, mas somente em saber quem Ele era, pois
declararam: "Quem é este [...]?" (Mc 5.41). Ao final da história,
seus corações ficaram cheios de temor e de curiosidade, por haverem entendido
que precisavam, muito mais do que ver a Jesus, conhece-Lo melhor. Paulo, da
mesma forma, quis saber quem era aquele que havia falado com ele. Nós
precisamos conhecer mais a Deus, já que este também é Seu desejo para conosco
(Os 6.3).
Quem é Este? Leia Isaías 40.12-31