Texto-base: Gênesis 11.31-32; 12.4-5; 15.7 e Eclesiastes 8.6a
Introdução
Na
Bíblia, no Antigo Testamento, podemos ver que Deus se manifestou de várias
formas ao ser humano e, de acordo com a maneira que o fazia, se dava a conhecer
por muitos nomes. Um deles é Jireh,
que significa “o Deus da Provisão”, pois proveu um cordeiro para o sacrifício, salvando
Isaque do mesmo (Gn 22.1-14). Outro nome do Senhor é Rapha, que significa “o Deus que cura” (Ex 15.26), entre tantos
outros.
Existem muitas outras formas que Deus se manifestou
ao homem, inclusive no Novo Testamento, na vida de Jesus. Um desses nomes é
“Esperança”. A Bíblia diz que Deus é o Deus da Esperança (Rm 15.3) e que há
esperança até mesmo para a árvore que é cortada, pois a mesma torna a viver (Jó
14.7).
Em busca ao significado desta palavra e
deste nome, uma das palavras que se encontra para “esperança” é Tiqvah (Segundo Strong, 08615), que
significa “esticar uma corda”. Imagine, por exemplo, um alpinista, tendo o desafio
de escalar uma grande montanha íngreme. É claro que seria mais fácil para ele
se alguém que antes houvesse escalado aquele lugar, tivesse deixado uma corda
ao longo de todo o trajeto, ou seja, o trabalho do alpinista seria somente o de
se apoiar e de seguir o fio esticado. Esta corda facilitaria o processo de
escalação, que é dificultoso, assim como é a nossa vida.
Por isso, assim como o alpinista, nós
também precisamos desta “corda esticada”, ou seja, de esperança para uma vida
que não é fácil. Jesus mesmo disse que não seria (Jo 16.33). Nossa existência é
marcada por muitos obstáculos, processos dolorosos, curvas e instabilidades.
Por isso, a corda tem o objetivo de nos alinhar e nos manter no foco, oferecendo
direção para não nos perdermos ao longo da caminhada.
O que não podemos é cometer o erro de
transformar uma fase em uma história. Fases são passageiras e, por isso, não
podemos permitir que elas definam nossa vida e o que somos verdadeiramente. Em
muitas vezes, a fase será ótima, em outras, péssima, porém, ambas passarão e a
que era boa, deixará de ser, e a era ruim, passará a ser melhor. O importante é
saber que em nossas vidas nada pode ser definido por uma simples fase. Não
podemos ficar paralisados diante de um momento ruim e nem acomodados com uma
fase boa. No Salmos 90.10, Moisés declarou:
Só vivemos uns setenta anos, e os mais fortes chegam
aos oitenta, mas esses anos só trazem canseira e aflições. A vida passa logo, e
nós desaparecemos.
Por isso, precisamos de sabedoria do Senhor para vivermos
nossa curta vida da maneira que Deus planejou. Paulo disse para tomarmos
cuidado com a maneira que vivemos (Ef 5.15), ele nos aconselha a não sermos
insensatos, mas sábios, aproveitando ao máximo cada oportunidade, pois os dias
são maus (v. 16).
O segredo de se viver bem
A
melhor fase de nossa vida é a que estamos vivendo agora. A Bíblia fala que não
é sábio olhar para trás e dizer: “Como era bom aquele tempo” (Ec 7.10). Então
qual é o segredo para que possamos viver a vida da melhor maneira possível, à
maneira de Deus? O segredo é entender que existe um tempo para que todo
propósito se realize, e não só isso, é preciso compreender também que, além do
tempo, há também um modo, um processo, uma maneira estabelecida por Deus para
tudo acontecer. A palavra do Senhor diz em Eclesiastes 8.6:
Existe um tempo certo e um modo certo de fazer cada
coisa [...].
Deus tem um tempo e um procedimento
para realizar tudo o que deseja em nossas vidas. Antes que chegue o tempo em
que determinada situação aconteça, existe o processo pelo qual devemos passar
para chegar até ela. O que acontece, na maioria das vezes, é que desejamos
viver uma nova fase, um novo tempo de Deus, porém, não queremos passar pelo
processo que é necessário. Queremos, normalmente, o processo antigo, ao qual
estamos acostumados. Isso traz consequências perigosas para nossas vidas. Um exemplo
disso é a pessoa que deixou a fase de ser solteira e vive agora a fase de ser
casada, mas continua vivendo o processo de solteira. Com certeza, esta postura
trará sérias consequências para este casamento.
Nós, por isso, precisamos entender qual
é o tempo de Deus para nossas vidas e, com isso, entender também qual é o
processo pelo qual Ele deseja que passemos. Este é o grande segredo para não
nos perdermos diante das fases das nossas vidas. Tomar o cuidado de seguir a
“corda esticada” e não se desviar dela é muito importante para todo aquele que
deseja viver a vida sabiamente. Isto porque existem fases em que nós mesmos
entramos, sem que seja a vontade perfeita do Senhor. Entrar em um casamento,
por exemplo, de forma precipitada e fora de tempo pode ser um verdadeiro
desastre!
A fase do deserto
O
povo de Deus, em um momento, estava passando pela fase de deserto. Deus tinha
para este tempo um processo, um modo, o qual o povo não gostou de viver. Na
verdade, além de não gostar, eles pareceram não ter aceitado o processo, pois
murmuravam constantemente do mesmo, sendo, por isso, destruídos pelo Anjo da
Morte (1 Co 10.10). Em um momento, eles passaram a receber o maná, e esta era a
fase de ser alimentado com o pão do céu (Êx 16.4), porém, esta fase não durou
para sempre, pois findados os quarenta anos de caminhada no deserto, o maná
parou de descer (Js 5.12). Este era, então, um novo tempo de Deus e, portanto,
iniciou-se também um novo processo. É imprescindível viver a vida com Deus
tendo convicção do tempo e modo que estamos vivendo, caso contrário, sofreremos
desgastes e frustrações desnecessárias.
Deus escolhe o tempo e o modo
Jeremias, em um momento de sua vida,
tendo uma visão e sendo questionado pelo Senhor a respeito do que via, disse:
Vejo o ramo de uma amendoeira [...]
Jeremias
1.11b
Em resposta, Senhor disse: “Você viu bem, pois estou
vigiando para que a minha palavra se cumpra” (v. 12). A resposta de Deus não
parece fazer sentido, porém, esta vara tinha uma simbologia especial em Israel.
Ela representava a árvore do “alarme”, a árvore “despertadora”, ou seja, quando
se via esta espécie brotando, significava que o inverno estava passando e que
uma nova fase iria se iniciar. O que Jeremias viu foi o brotar de uma planta
que simbolizava um novo tempo de Deus para a sua vida e a vida do Seu povo. A
árvore, então, era o símbolo de um novo tempo, e a palavra (a qual Deus disse
que velava por cumprir) é o símbolo do processo (modo). Isso significa que Deus
tem um novo tempo para o seu povo, porém, o modo pelo qual este tempo chegará
será sempre de acordo com a Sua Palavra, ou seja, não será do nosso jeito, mas
da maneira que Sua Palavra determinou que seria.
Durante a caminhada no deserto, o povo
de Deus viveu um tempo em que eram guiados pela nuvem. Se ela se movia, então
uma nova fase se iniciaria e a um novo lugar iriam. Porém, apesar da nuvem,
existia também as tábuas da Lei, que representavam o novo modo. Neste caso, a
nuvem simbolizava o novo tempo, mas a Lei simbolizava o novo modo pelo qual
eles deveriam ser submetidos. Da mesma forma deve ser conosco: Deus deve ter
liberdade para nos ensinar Seu tempo e modo, e nós devemos aceitar como e
quando ambos se achegarão a nós.
Entender o tempo e o modo
As pessoas que são exemplos de Deus
para nossas vidas na Bíblia são aquelas que entenderam e aceitaram estas duas
coisas: o tempo e o modo de Deus. Um exemplo é Elias, que foi chamado por Ele
para ser profeta. Então ele profetiza que não choveria por determinado tempo e
a palavra se cumpre: por três anos e seis meses nem chuva nem orvalho caíram do
céu. Este era o tempo e a fase em que Elias foi reconhecido e exaltado por
Deus. Porém, assim como qualquer fase, este momento passou e, mais tarde, viveu
o tempo de se retirar, de se esconder na caverna e de ser tratado pelo Senhor.
Nesta fase, ele estava sozinho e, por isso, era alimentado pelos corvos. Num
primeiro momento, então, Elias realizava grandes coisas, se apresentava diante
do rei e profetizava. Agora já não era mais momento de agir assim, ele estava
aprendendo no silêncio a depender de Deus. Isto não significa que uma fase é
melhor do que a outra, mas significa que uma fase é diferente da outra e importante
é saber viver cada momento da maneira certa, aceitando e sendo aprovado por
Deus durante o processo, o modo pelo qual Ele deseja que as coisas aconteçam.
O que Elias viveu acontece conosco
também. Em um momento, Deus nos levanta e nos dá muitos discípulos, um
ministério poderoso, reconhecimento e prestígio da igreja. Em outro, e
totalmente contrário, nos sentimos sozinhos, abandonados e com recursos
escassos. Nesta hora, o Senhor deseja ver quem realmente somos. Ele nos prova,
como disse ao seu povo no deserto:
E te lembrarás de todo
o caminho, pelo qual o Senhor teu Deus te guiou no deserto estes quarenta anos,
para te humilhar, e te provar, para saber o que estava no teu coração, se
guardarias os seus mandamentos, ou não.
O mesmo aconteceu com Davi e Jó, que em
um primeiro momento estavam muito bem. Davi, por exemplo, havia sido
encarregado de cuidar de ovelhas, um tempo em que tudo parecia ser mais fácil.
Porém, em outra fase, precisou enfrentar um gigante e liderar todo o povo de
Deus, uma fase não tão confortável para ele. Anteriormente, quando menino, era
querido do rei Saul, porém, mais tarde, torna-se seu grande inimigo, a ponto de
ter que fugir de onde morava para habitar em uma caverna, a caverna de Adulão
(1 Sm 22.1). Com Jó, a diferença das fases é ainda mais gritante, pois no
início de sua história, foi elogiado pelo Senhor, pois a seu respeito estava
escrito: “[...] homem íntegro e justo; temia a Deus e evitava fazer o mal [...]
era o homem mais rico do oriente” (Jó 1.1-3). Apesar disso, sua vida sofre uma
reviravolta, pois passou de rico e bem-sucedido a pobre e miserável. Ele passou
pela fase da perda de sua família, escravos e de todos os seus bens. Apesar
disso, o que se pode perceber é que tanto a fase boa como a ruim passaram. Davi
se tornou um homem segundo o coração de Deus (At 13.22) e Jó se tornou
conhecedor do Senhor, como quem conhece alguém de junto caminhar (Jó 42.5), mas
isto porque a história de ambos não foi contada a partir de uma fase somente,
mas ao longo de todos os momentos que viveram. Por isso, o grande segredo é não
soltar a corda, a esperança. Nós não podemos fugir do tempo e do modo que Deus
estabeleceu para nossas vidas.
O povo de Israel não aceitou o tempo e
o modo de Deus, por isso ficaram perambulando por quarenta anos do deserto. A
verdade é que o tempo do nosso deserto, dura exatamente o tempo da dureza do
nosso coração. Eles até queriam uma nova fase, mas não quiseram aceitar o
processo que os levaria a ela. Essa resistência ao processo de Deus gera um
grande atraso para a vontade perfeita do Senhor para nossas vidas.
Abraão e o tempo e modo de Deus
Quando
o Senhor promete a Abraão que ele seria pai de multidões, ele ficou em dúvida
se aquilo realmente aconteceria, e Sara, sua esposa, até riu diante da situação
(Gn 18.12). Apesar de ambos desejarem esta nova fase de ser pais, não
entenderam, porém, que existiria um modo também para tal fato acontecer. Eles
aceitaram a nova fase, mas não o modo. Sara até mesmo ofereceu a seu esposo a
possibilidade de a promessa se cumprir por meio de sua escrava, Hagar, ou seja,
do modo que achou ser o melhor e mais rápido, mas esta não era a forma que Deus
havia planejado e, mais uma vez, o tempo ficou “atrasado”.
Abraão e Terá
O
livro de Gênesis nos conta a história desta família, Abraão e de seu pai Terá.
O que já ouvirmos a respeito de Terá não é muito bom. Nós normalmente o
consideramos cômodo e preguiçoso, pois havia saído de sua terra em direção a
Canaã e acabou morrendo em Harã (Gn 11.32). Mas Terá, na verdade, percorreu o
caminho mais longo, o que passava por Harã, onde viveu 205 anos antes de
falecer, apesar de que não lhe era necessário percorrer este trajeto. A
impressão que temos é a de Terá somente atrasou a vida de seu filho Abraão,
porém, a verdade é que Deus também tinha seu tempo e modo para com ele. Em
Gênesis 15.7 está escrito:
[...] “Eu sou o Senhor, que o tirei de Ur dos
caldeus para dar a você esta terra como herança”.
Neste texto, podemos perceber que não
foi Terá que tirou seu filho de Ur, mas foi o próprio Senhor que o fez. Deus
apenas usou o pai de Abraão para ensinar a respeito de Seu tempo e processo,
que são diferentes da forma que imaginamos ser.
O nome de Terá quer dizer “atraso”,
“demorado”. Este nome representa algo que não gostamos de viver: a espera.
Ninguém se sente confortável esperando por algo que deseja muito. Provavelmente
Abraão não era diferente. Deus, então, precisa começar este processo de ensinar
a paciência e a perseverança em sua vida.
Como já foi dito, Terá escolheu o
caminho mais longo, passou por Harã (e ali faleceu). Se ele tivesse escolhido o
trajeto mais fácil, teria andado aproximadamente novecentos quilômetros a
menos. Em nossa forma humana e fraca de pensar, consideramos o caminho melhor o
caminho mais rápido, porém, Deus é soberano e, com certeza havia um motivo para
esta viagem ter acontecido desta forma. O trajeto comum de Ur até Canaã, apesar
de mais curto, era conhecido por ser um caminho de morte, além de ser isento de
rios e de vegetação, um verdadeiro deserto. Provavelmente se este tivesse sido
o caminho escolhido, Abraão e seu pai nem tivessem chegado à terra prometida.
Já o caminho mais longo, fazia-se beirando os rios Tigre e Eufrates, rios que
simbolizavam vida, um crescente fértil para toda a terra ao seu redor.
Esta história é, muitas vezes, a história de nossas
vidas. O pai de Abraão decidiu o caminho, o modo pelo qual eles chegariam até a
terra prometida, o “tempo”. Da mesma forma, o nosso Deus e Pai decide como será
o processo que passaremos até que Suas promessas se cumpram em nós. Por mais
que não entendamos o porquê Terá escolheu o caminho mais demorado, e, analogicamente,
o porque Deus escolhe nos fazer esperar, ainda assim, precisamos aceitar e nos
submeter ao processo, pois ele nos levará ao tempo novo do Senhor para nós.
Deus não tem o objetivo de nos fazer perecer enquanto esperamos, mas no caso
desta história, Terá apenas escolheu o caminho mais seguro, onde pudesse
proteger seu filho. Assim o Senhor faz conosco.
Já que nossa vida é feita de fases, precisamos
aprender a respeitar cada uma delas e também o processo que nos leva a outros
novos momentos. Abraão não pulou a fase de caminhar pelo caminho mais longo, e,
por isso, chegou a Canaã próspero, cheio de bens, preparado para aquela nova
fase. Deus sempre tem um propósito com o processo que escolhe para nossas
vidas.
Conclusão
Manoá
e sua esposa, os pais de Sansão são exemplos de pessoas que respeitaram o tempo
e o modo de Deus. Quando receberam a promessa de um filho, ou seja, de um novo
tempo para suas vidas, dirigiram-se ao Senhor para Lhe perguntar de que modo deveriam
usufruir desta promessa. Manoá, o pai de Sansão orou ao Senhor e disse:
Ah! Senhor meu, rogo-te que o
homem de Deus, que enviaste, ainda venha para nós outra vez e nos ensine o que devemos fazer ao menino que há de
nascer.
Juízes 13:8
[grifo do autor]
Este casal aceitou o tempo de Deus para suas vidas, mas além
disso, aceitou o modo pelo qual deveriam criar o menino.
Viver fora do tempo e do modo que Deus estabeleceu
para nossas vidas parece até ser melhor e até mesmo mais leve, mas é um grande
engano. O que define uma promessa não é somente o tempo em que ela leva para se
cumprir, mas também o modo, o processo pelo qual devemos nos submeter até que
ela se cumpra. Os grandes homens e mulheres que conhecemos na Bíblia foram, com
certeza, pessoas que um dia se submeteram ao processo e ao tempo de Deus, e,
por isso, foram recompensados. Nosso desafio é fazer o mesmo, olhando para o
grande exemplo de Jesus, que escolheu viver o processo de morte para nos dar a
vida eterna e hoje vive o tempo de estar com o Pai!